15.8.11

185,5 dias

Apenas existem épocas que transcendem, o tom, a cor e imagem. É intrépido e egoísta atravessar a primeira parte do ano. Os outros cento e oitenta cinco dias e meio que passam pra cá, são quentes, tênues, com textura firme e dócil. Um sol, uma canção, com amor e muito tesão. Desses que duram antes do sol aparecer, e acabam, ... na verdade nunca acabam.


Claudilene Neves

12.8.11

Por enquanto, renasço

Estou contando para você

Estou cantando sobre você

Estou vivendo, de alma apertada

Estou partindo e continuo sentada,

Parto dança, parto que me cansa

Um olho na frente, o outro no umbigo

Me ligo, desligo a TV, reparto, parte, traço e o lago.

Duas fases, dois eus, dois teus, dois meus.

Que agora, pra passar o tempo, agosto parte e quebra no setembro

E tudo volta a minha volta.

Métricas, eu não sei.

O seu olhar, eu liguei.

Mas sei que faço parte do seu ato, e do teu fato que tanto te assimila

O mundo que roda torto

O sono que investe solto

Reencontro, recomeço, e por enquanto renasço

Traço novas palavras

Descanso em novas etapas

Revido, revivo, recrio

Faço arte durante o dia e (por hora)

Ainda renasço durante a noite ... [continua]

-


Claudilene Neves

11.7.11

Eu me rendo

Meu canto que antes alto e meso-agudo entalou na garganta. Era da dor, da fala e da calma, um antes progredido de chances, sempre tão inocentes – não que não sejam mais – não transbordam, afetam e colorem.

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Porque às vezes é da necessidade de ir no fundo, respirar o sufoco e voltar à superfície, procurando sentido, tom e cor – as vezes da certo, as vezes o fôlego não volta.

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Saudade e nostalgia se transformam em ligações ímpares de solitude e vontade, do sagrado e do secreto, do que é, do que já não é mais. Coisas que ficarão só na fotografia, coisas que não cabem na fotografia. É real e forte, colorem manhãs em fins de tarde, vontades em sentidos abstratos. Consumo fogo e desperdício. Desperdiço vontade e coragem. Covardia patética.

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Se hoje, me enterro de vontades, ontem pré-ocupações de só sentimentos, que se chocam e costuram na carne, na alma e no som.

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Eu gosto do gosto amargo. Eu gosto do imprevisível que me aborda, eu sinto muita falta do confortável. Imito, reflito e me engano. Transporto de tete à tete, como se fosse possível viver só, em paz e com limites: de sentimento, envolvimento e solidão.

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Eu gosto do gosto forte. Eu gosto do previsível que só eu abordo, e então sinto falta do desconforto. Repito e me frustro. Transporto à distância, como se fosse impossível viver junto, no caos e sem limites: quero é envolvimento, sentimento, e nada de solidão.

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Então, eu me rendo – eu sou uma fraude – ...

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Claudilene Neves

5.7.11

Eu pago alguém!

Eu vou pagar alguém: pagar para apagar essa ansiedade, esse anseio de tanta coisa ao mesmo tempo. É nesses momentos que percebo como as coisas se grudam uma nas outras. Embolo a dança da vida, a necessidade da rotina eminente que assombram esses dias de antibiótico (anti-vida). Não é só do mal estar, é do mau estar, da rodinha de sabores entre o que há por dentro e o que há por fora. Eu me esqueço da melodia toda vez que me perco olhando para o céu da minha boca, conto contos, conto moedas, pago alguém pra viver. Não quero dissimular as verdades presentes, e quero ganhar de presente no próximo final de semana, um abraço, um afeto e um contrato. Quero envolver situações já vividas e transcorrer com ideias ainda surpreendidas (por mais incrível que isso teça). Na terça, peço paz, sol e calor, e se for possível, mas só se for muito possível: um novo som, uma nova sombra, uma nova cor e um novo amor – daqueles que fazem a gente acordar antes das seis sorrindo, e deitar antes das 23h sonhando!

Claudilene Neves

27.6.11

Eu me conserto / Eu me concerto

Ok! Ok! Então vamos escrever. Falar sobre os fardos e as falhas, sobre o final de semana incerto, e desse deserto fadado de rotina; - mas que chato: terei de pensar nisso por alguns dias a fio.

Que solidez esse macio que perdura no sentimento, essa vontade inchada de escrachar movimentos involuntários de solitude – nada, solidão não, sai fora!

Complexo sentido – um quase sorriso, um quase amor, um quase completo.

Um total. Um total sentido do sorriso, um total amor pela intensidade, um total de quase completo.

Talvez compense pensar em jogar tudo no meu olhar, guardar, reprogramar, divergir. Beber o estafo com leite e café, e te contar da prosa, da música e da dança – aquela que nunca se dança (mas que não me cansa e nem me pesa) – na verdade o que quero, é me animar.

Com prosa qualquer, bossa que vira samba, tarde que encanta e esquenta na mesma proporção: um sorriso, uma fé, um amor (quase que passageiro), uma dor (quase que intensa).

E eu descrevo com pressa: dois passos pra lá, dois passos pra cá.

Eu me conserto. Eu me concerto!

Claudilene Neves

22.4.11

de mim para eu

Sabe que subo por dezenas desses dizeres teus. Alguns espelhos transformando teus sambas de salto agulha, sobre meus movimentos menos seguros. Não me asseguro, nem me limito em ser só o que posso, ou não posso ser. Não me imito ou me indigno que pouquíssimas tendências falam sobre nossos momentos de interrupção.

Insisto e me magôo. Mas ok, tudo não passa de visitas à francesa e saídas de supetão.

Desisto, mas ainda quero te dizer um monte ... Quero repetir refrões, esvaziar tantos porquês e apagar tantas reticências que sobram e assombram esses momentos infantis, mas te incomoda mais que me incomoda.

Minhas frases de efeito, minhas longas fases e meus defeitos tão bem latentes passando a mão nas minhas qualidades pouco valorizadas no momento.

Tem um vazio gritando em eco, e tudo não passa de insegurança e medo. Uma sequência unilateral de fome e ânsia do que pode e não pode repetir. Eu movimento, comento, argumento e não vejo mais tua bandeira, que por costume era sempre porta de ti.

Não teima, toma os remédios, enfrenta os porquês e não desacostuma das reticências, não põe em desuso as exclamações e os vícios de falar de você e dele, simultaneamente. Na verdade um traço e outro se misturam com alguma facilidade.

Mas é preciso de coragem, aceitar que certas coisas não servem mais, amarra-las dentro de um saco e jogar na solitária; mas retornando de lá e ainda ter fôlego para suportar que certas outras sempre servirão e nunca serão amarradas, e exportadas pra longe de você.

Não é esquecer definitivamente, é encarar definitivamente.

Afinal, é sempre o que a vida quer da gente, só coragem. E bota só nisso.

18.3.11

Fora de costume

Eu gostaria de desocupar a cabeça assim como quem limpa a caixa de e-mails, ir deletando lixo por lixo, ou essas correntes inúteis e mentirosas que nos repassam. Ah! Mas a cabeça vem me pregando cada peça sem graça, que nem o canto da boca se meche mais..

Devia mesmo é mudar o rumo, o endereço, a cor preferida, não o cabelo que pouco sobrou, do muito lugar desocupado do meu corpo (que ainda bem) vem se convertendo à normalidade.

Trocar seguros por ousadias, inverter tranqüilidade por mais nasceres de sol do que por do sois no lago, ouvindo a lentidão das águas, e a mansidão dos alternativos rocks que me acompanham desde adolescência.

Talvez eu deveria me posicionar de maneira diferente, mais ansiosa, mais volátil, menos determinada e segura, talvez devesse ser o que agrada aos outros, talvez devesse me submeter ao um destino cruel, daqueles que tem medo de contar histórias.

Mas há certas coisas que a gente já nasce sabendo ou já nasce evitando, não sei. Só sei, que há partes que suplicam com sangue nos olhos pela mudança, há certas outras, como a teimosia que insistem em não sair daqui. A parte do quero mais, mais, mais, mais, mais, cadê o limite, cadê eu, cadê você?

São fatos esperando rimas, e eu sempre posta com os pontos e contos de mim e o mundo, de mim e os eus, de deus os outros.

Vai lá, nada é concreto, e daqui uma semana, meu texto já mudou outra vez.

Tudo bem, ... acostumar.

Acostumar? Que nada!


Claudilene Neves

4.2.11

Adolesci

Não sei viver por causas infinitas e as finitas me consomem. Tenho vivido um momento de solitude + nostalgia, impressionante. Comum? Talvez, mas não em tamanha proporção. Me despeço e destruo movimentos presentes, soluções que moram no passado tem me assombrado pela janela do quarto de vestir. Som, ruído, e camomila. Camomila pra acalmar, a alma, o verão e as letras dos jornais.

Não sei dizer nem mais, nem menos, nem desculpas ou culpas. Vivo os dias, conto as notas, me despeço das certezas. Não é maio, e é impuro. Pura fuga. Fuga indolor.

Às vezes acho que o tempo nunca passa pra mim, as vezes outra, acho que não posso acompanhar sua velocidade quando tenta me comer pelas beiradas.

Mas tudo bem, no máximo e no mínimo, certezas ficarão presas na dispensa de casa. Caso com ilusões, e moram estrelas no céu da minha boca.

Eu acho, realmente, que adolesci! De novo!


Claudilene Neves

31.12.10

2011, venha sem vergonha!

Porque na verdade o ano que chega, chega manso bem atrás da nossa orelha, dizendo que é novo, joga charme e promete um monte. Um monte de novidades, um monte de verdades e emoções. Já já a gente acredita e cai na lábia dele, espera que seja novinho em folha, que é só rasgar o papel, tirar de dentro do 1º de janeiro e usar, sem moderação, é claro. Frustração. Totalmente, óbvio. Tem que ler o modo de usar, minha gente!


Abuse. Ouse. Use. Faça, com o próprio punho, corpo, mente, vontade e muita, muita coragem.


Que tenha saúde, verdade, e suspiros profundíssimos, de preferência.


Aproveite a oportunidade do calendário, e amanhã quando usar o de 2011, cheirando a papel novinho, não esqueça que se você quiser, da sim, pra fazer coisas novas, boas e incríveis. Não só amanhã, mas hoje e sempre.


Caminho, vida e muita perda de fôlego pra você: hoje à noite e nos próximos 365 dias que virão!


Feliz 2011. Feliz Ano todo!


Te abraço e te beijo, estalado!

Se cuida e cuida da ressaca, hein? ;)



Claudilene

29.12.10

Fragmento de um quase final de ano

Só por hoje. Esse vazio quebrando o vício dentro de mim. Excesso, falta ou peso? Peso demais agüentado nos últimos 363 dias deste ano. Peso sobre os pés, peso sobre as costas, peso sobre as faces, sobre as falas e sobre as faltas. Presa nos dias. Para de prosa fiada pra pagar daqui um mês. Dessa vida quase vida, entupida nos dias. É vício e virtude. Que te quero é fato, e te busco no ato. To com sede afetiva, e ainda continuo insaciável (...)

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Claudilene Neves

28.12.10

Reduzi

Eu insisti muito. Na verdade pressuponho que fosse aceitável e entendível a qualquer um, que cruzasse meu espaço, e esbarrasse nas minhas pernas. Mas não era. Nem fácil, nem esbarrável. Meu tom, sumindo no meu som, aos poucos na minha mente. Meus fatos subindo aos poucos as escadas. Foi difícil. Doía e dolorido foi ficando, passando pra passado e futuro em um ar suspenso, impuro de quem se vê impossível, de encarar. Não é verdade que havia medo. Havia desespero. Desestrutura. Ansiedade e fome, antecedendo os fatos, recaptulando ações futuras. É pra quem odeia e ama, em grandes proporções, nesta mesmíssima sequência. Pra quem vive, e vive sonhando com os pesadelos. Não permitiram café. Moda. Água. A sede afoita, o olhar vazio, um corpo imenso. Eu dividi esse entre-espaço em cinco partes: da negação, da tristeza, do desespero, do ódio, e por fim, do amor. Mas enfim hoje, 102 dias, 23 kg a menos, estampados na figura de pernas cruzadas, ao som de gargalhadas, e pratos quase vazios. Saúde, dos pés a cabeça, frente, verso e mente.

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Claudilene Neves

a crônica do primeiro encontro

E ele apareceu. Do lado de cá, o coração apitava quinze pras sete. Os olhos arregalaram, a boca se abriu lentamente, a mão gelou. Era ele, alto, negro, calmo, incrível, adorável como sempre. Desejado como no sonho. Ela passou os braços por cima da bolsa grande, que foi comprada da última vez, e naquele momento mais nada existiu. Nem pessoas, passos, música, nem data, clima ou as poesias. Só ele existia, afinal só ele insistia. Derrubou seus braços e seu corpo de encontro ao dele, e suspirou aliviada – e trêmula disse – até que enfim. No colo do seu abraço, as coisas e as cores voltaram ao sentido, as pessoas, os passos, a música, a data, o clima e principalmente as poesias, mas de volta ao real, ainda assim, naquele momento só ele existia, e ela cedia. Ele a abraçou uma vez, e duas, e ela sentiu seu cheiro uma vez, fechou os olhos, sentiu duas e desejou, que ali começasse um ciclo que ela já esperava.

Ele a convidou para almoçar, mas as pernas não acompanhavam o ritmo do resto do corpo, porque o corpo acompanhava o ritmo dos batimentos cardíacos que fora coordenado por um dos sambas ouvidos no caminho.

Um espaço, uma mesa, duas cadeiras, um almoço. Ele a flertava com os olhos, e pela primeira vez, ela não conseguia por em prática seu arriscado plano de encanta-lo e fugir depois. Seus olhos fitavam o próprio prato quase vazio, ela se concentrava para enxerga-lo da forma que seria mais fácil de aceitar – uma fraude, mais um engano. Seu coração deu um salto, ele a olhou profundamente, e naquele momento já não existia pra onde fugir ou como faze-lo. Era ali que ela queria estar, na frente dos olhos dele, estender seu braço, e tocar com a mão a sua mão, dizendo: estou aqui, eu te sinto, eu te toco, você me toca, e eu não sei como.

Mentira, porque ela sabia, no fundo sempre soube que essa fuga seria impossível. Existiam provas sem contradições, era nato, forte e o pior de tudo, leve.

Uma hora, duas, a conversa fluía solta, ela nem sentia, e mal podia esperar de novo seu corpo em contato com o dele, sua boca finalmente beijando a dele. Eles saíram, sentaram-se, e mais conversa - pareciam mesmo viciados em palavras, gestos, discursos. Ela já não suportava mais, nem ele, então de forma natural, carinhosa, e adorável, o primeiro beijo, o primeiro que parecia ser um de tantos outros mil beijos dados, durante toda uma vida. Foi estranho, ao mesmo tempo, que novo, foi incrivelmente natural.

Ela já conhecia aquele beijo, era o mesmo dos desejos e idealização acometidas durantes os últimos dois anos e tantos meses.

O susto tomou conta, o medo enraizava nas suas veias. Não era mentira e ele, não era uma fraude. Adeus a ideia de idealização. Ele estava ali, a poesia personificada, uma ideia de carne, osso, caras e cor. Ele acabara de receber o posto, do único tipo de homem no mundo, que receberia seu total respeito. Ele existia, e insistia em existir. E ela já não tinha como não ceder.

Três horas. Quatro. Aquele dia acabaria, ele ficaria por ali, ela entraria no carro e voltaria pra casa. Começou a doer, apertar, uma dor desconhecida, forte, com um tônus diferente. Não sabia que nome dar, nem qual dos analgésicos pegar na bolsa. Não tinha sentido aquilo antes, talvez fosse problema das 6 xícaras de café que tomou durante o dia pra manter o equilíbrio, mas não era, era mais, era a presença dele ficando, e deixando lugar pra saudade que já fazia parte daquele encontro. Não tinha remédio, teria de suportar aquele tipo de dor. Aquele vazio que ficou espaço ao seu lado, que já parecia ter nome, sobrenome e CPF.

O relógio dizia 17h. Hora de levantar, interromper beijos, abraços e calor. Caminharam até a porta. Os corpos um na frente do outro, os olhos um na frente do outro, o sonho, o medo, a vontade, a angústia, o vazio, a esperança, um na frente do outro, respectivamente nessa ordem.

Um olhar cheio de sentimento. Um toque leve no braço, o perfume, o gosto, o cheiro, os sonhos. Os lábios. – Não me despeço, digo até logo. Não se despeça, não temos que nos despedir mais, ela disse em voz baixa, dessa vez sem vigor na voz que sempre era posta.

Ela voltou pra casa, arrumou as malas e vai mudar de vida, dessa vez tem mais coisa na bagagem, e mais companhia na viagem. Com tantas crônicas pra contar tantos finais, ela espera conseguir escrever um livro, de tantos primeiros encontros com uma pessoa só.


Claudilene Neves



21.11.10

do vício que é dela.

E ela analisava tudo como
se tudo movesse à golpes
das asas de uma borboleta.

A borboleta então parou.
...

Ela queria que a coisa virasse palavra.
É que ela é viciada em frases perfeitas,
sentimentos sinceros e problemas reais.


Claudilene Neves

17.11.10

E essa ordem preguiçosa e natural das coisas

Hoje eu não sei o que quero. Se vou para um lado, para outro, se paro intacta, sem piscar, sem respirar, sem sentir. Se apago, registro. Eu acordo e ligo. Hoje, eu vou ficar por aqui, me entorpecer dessa solidão descabida, mal resolvida, dessa mágoa fadada a tanta nostalgia. Vou ao fundo, chegarei lá e respirarei merda. Isso! Merda! Que merda! Vou, e vou voltar. Estou ácida, muita ácida. Hoje eu não sei o que leio. Teus despejos ou meus enganos. Quero ler na entrelinhas de frases sem espaços entre as palavras. Chega de espaço, chega de intervalos. Chega dessa mansidão da ordem natural que vem das coisas. Eu apresso essa natureza preguiçosa, que insiste em ficar pra próxima. Diz logo, põe um ponto final e tome num gole só, essas tuas reticências, que prometo, que juro, que mato minha exclamação. Desisto. Lhe apresento meu maior ato de coragem - virar a rua, ir pra casa e seguir a viagem.

Claudilene Neves

16.11.10

se, me, não

Nem conselhos, nem ideais. Chega desse lixo externo. Chega desses entulhos. Desses teus, desses meus. Chega de tudo. De tudo que foi e não tem força pra continuar sendo. De tudo que foi e agoniza terminando no que é. As flores sem perfumes, sangue sem visco. Vontade, idade, tempo passando, chuva caindo, tudo tão branco. Me canso, me canso tanto!! E aquele tempo, tudo tinha sua graça, seus rumores e sentidos que ficavam presos nos perfumes. As coisas por aqui, mudaram, claro que mudaram. Meus textos perderam os finais, e no final das contas acabaram perdendo o começo, o meio o fim. Talvez tenham sido as fantasias que tenham tomado conta das roupas jogadas pela casa, talvez tenha sido a música que parou de tocar, ou dos fragmentos desacordados, dos meus desejos embrulhados. Se te analiso com os olhos, não te enxergo. Se te enxergo, eu evito. Porque não entrar por um caminho sem voltas? Porque não encontrar saídas rápidas. Enchi das saídas à francesa. Enchi, desse delírio. Me reformo, de corpo, alma e vísceras. Ou pega fogo, ou pega bem, ou não pega. Ou toca, ou não toca. Não me toca. Me queime. Não me olhe. Não me entenda. Me surpreenda. Me telefone. Deixa, que o número eu apago depois.


Claudilene Neves

eu por eu. incompleto.

Sou cheia de confrontos. Internos e também externos. Tenho cúmulos, exageros e palavras. Tenho manias insondáveis e desejos inflamáveis. Morro de medo de faca, lagartixa e de covardia. Odeio gente morna. Nunca fumei maconha. Odeio gente careta. Não tolero preconceitos, sobretudo os ideológicos e raciais. Não tenho saco para amigos agitados. Acho uma derrota, os viciados, seja o vício lícito ou ilícito, tátil ou sentimental. Não gosto de me sentir vulnerável. Fujo de paixões. No momento, eu cedo, mesmo que aqui, sempre amanheça tarde. Sim. Logo depois das seis.


Claudilene Neves

4.8.10

Agosto, com gosto.

"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro, e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente: Ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo em frente!

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições. Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por Ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancun ou Miami, ao gosto do freguês.

Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados. Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques, tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco."
Caio F.

19.7.10

*02/07/2010 – † 18/07/2010

Como começou, terminou. Pingos nos “is”, pontos finais, vírgulas e o fim.
Página virada. Carta marcada, e os próximos capítulos.
Preciso de tempo. Preciso de ar. Preciso de arte.
Concentração, na ação, para os próximos capítulos: fôlego e paciência.
Nem é pra pedir calma, nem cama, mas muita sapiência.
Palavras cruzadas e pés descalços, sigamos para as próximas páginas.
Literatura, exames, arte, cortes, leitura, adaptação. 2 meses: recomeço.

Eles abrem, eles fecham, eles começam e se encerram, menos um ciclo ou mais um.
So, let’s go, ...

.
Claudilene Neves

16.7.10

indisposição *

Eu te contei. Falei no passado sobre as hipóteses de que essas teses seriam falsas. Quantas faltas! Penso que, logo quando esqueço do começo da história era a hora de terminar. Terminar com essas feridas, com esses textos lúdicos dedicados a tantos vocês, e tantos seus que na verdade esperam por um nome, um RG e um e-mail. Acho mesmo é que eu deveria parar no meio, já teria o início, evitaria o final. Porque não rasgar, os poemas, lavar as prosas, desperdiçar tantos eufemismos bruscos das últimas 360 horas que aconteceram? Não estou disposta, não estou exposta, não quero estar.
.
Claudilene Neves

12.7.10

(*) da vontade, que nunca passa.

E já passa das cinco lá fora, passa do ponto, da ponta e do conto. O frio já esquenta, o inverno corre apressado pro setembro. Tudo que tenho, esqueço, e transformo nesse meio tempo: nada tão figurado como o passado, nada tão cênico como o presente. É doce e amargo, frio e quente. E eu te confio como quem não te conhece, e sonho como se fosse possível. Rastejo. Não planejo. Subverto. Na palavra, os instantes. Eu ainda prefiro nas entrelinhas. Há tantos pensamentos e “eus” misturados nesses nós, que já nem me convencem mais. Não te tenho, nem te perco, retenho teus passos grudados no céu da boca, e te decoro como se fosse possível nunca mais sentir. Em cada passo - passo fome, passo frio, passo saudade, mas não passo vontade! E essa vontade, que nunca passa (...)

.

Claudilene Neves

10.7.10

Intensité.

Mas se o amanhã surgir, te tenho aqui, bem ontem. Porque aprendi a ser passado, presente e futuro... contando com a incerteza de que nossos se cruzariam. sou um jogo de palavras, entre tempos e espaços criados. a vida em prece, em passos, em pressa. a vida em códigos, cifras de saudades e enigmas decifrados. Mas... se o amanhã surgir... sou presente, teu passado, nosso futuro.
.
Débora Andrade

29.6.10

e)xtremo(s

Eu disse logo no início: escrevo nos extremos, pego as pontas, colo uma na outra e faço um ponto. É verdade, e hoje confesso, não sei viver de equilíbrios e nem de instantes. Não gosto de água morna, tempo ameno, café na metade da xícara, risadas contidas, sentimentos pela metade. Tudo é assim, intenso, profundo, é, ... intenso. Gosto do toque na pele, do olhar direto, de dores fortes, de silêncio profundo, do teu texto exagerado, gosto do teu sorriso, e do teu afeto que me afeta tanto. É verdade, que já não sei viver só de extremos, que prefiro agora tempos amenos, café na metade da xícara, que não tolero dores tão fortes, mas não suporto sentimentos pela metade. Meta de alguma coisa parada, olhar figurado, vontade demasiada, encontros as 21h, com regresso depois que a prosa acaba. Pra mim a prosa, nunca acaba. Gosto do jeito exagerado de ser humano, e essa paixão pelas coisas do inferno, e do céu, odeio o meio dia, ou se é dia ou noite, eu sinto dia e noite, extremos, só se estiverem em extremos.
.
Claudilene Neves

28.6.10

Sei que sim, ...

_
Para você ouvir seu próprio silêncio,
no grito das minhas palavras.
_
Agora enquanto te pensava, deixava que a água caísse sobre meu corpo e fazia de conta que eram teus dedos. Aqueles dedos finos, claros e macios que muitas vezes displicentes sobre minha pele... brincavam. Uma brincadeira não convencional de quem quer seduzir, só tocar pra dizer no silêncio que não se traduz :"eu em você". Lembrava todas as lembranças que não são possíveis esquecer, desses olhos claros de um mel ácido quando se enraivece de tristeza da própria indecisão. Sentia, enquanto as gotas caíam, a tua existência, nessa ausência que se pronuncia presença, nesse vai e vem das horas roubadas do silêncio, que me chegam na claridade da noite, quando o vento toca isso que se apresenta como eu, em palavras tuas distantes, silêncio em pensamento que me busca e por buscar-me sem que se torne visível pensa que não vejo. Eu vejo, além dessa estrutura incipiente, nesse silêncio que envolve o espaço que me circunda, tua voz que não precisa ser som, porque antes de tudo é silêncio a falar de nós, ainda que lutes contra, porque é próprio do teu ser temer, temer a singularidade , esse silêncio que fala de "eu te amo" sem nunca dizer na materialidade das palavras tão gastas. Sei que simFalas a mim, e eu escuto... então... sai desse marasmo e para de bater na mesa no grito das folhas pra que eu te note, impossível não te ver. Lê meu silêncio nesse sentido de dizer o que você sempre soube e nunca quis acreditarmas que é real, no real da língua, discurso de amor imortal.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
de, CLoe (27 de junho, 2010)

24.6.10

e eu te diria tudo isso, meu bem

E eu queria te contar, que sinto falta do doce e do amargo, do vento gelado e macio, que sinto falta da poesia, da volta repentina, do livro esquecido no carro, que sinto falta de tomar café com você.
Queria até mesmo te contar como era bom as indecisões e a falta de tempo, mesmo quando o relógio parado apitava, quinze pras sete. Eu sinto falta da falta, do cheiro, do gosto, sinto falta dos beijos e abraços, teu e deles, sinto falta de não sentir falta de nada e depois sentir que faltava tudo.
Gostaria de escrever, contar os retratos aos pontos, e tudo que me aconteceu nos últimos dias, queria te falar que foi tudo uma grande besteira que não merecíamos tudo isso, mas que por fim estamos cá, sós laçados em mais de vinte e quatro nós.
Queria dizer que sinto falta de dormir com angústia e acordar com aquele sorrisão na cara, de ligar perguntando como que refogo o arroz e como me afogo em lágrimas debaixo do chuveiro.
Sinto falta da falta de nada sentir. Sinto falta de todos, do tempo, dos momentos e até de mim mesma.
Queria poder te encontrar, resumido numa página da internet, e tocar tua foto sentindo tua pele, queria poder passar para a próxima página e sentir o cheiro dos seus cabelos, gostaria de destruir tudo aquilo, mas guardei tudo dentro de um pote impressionista dos meus sentimentos mais devassos.
Eu poderia tocar e chocar, revirar a gaveta e roubar teus segredos e chocolates, eu poderia esquecer ou reflorescer teus sorrisos e sentidos.
Mas não vou destruir, muito menos parar de tomar café não lembrando de você, tudo bem que não seja teu resumo numa página da internet, mas o que tenho de teus insumos e momentos ninguém tira do meu HD interno.
Tenho os momentos doces, amargos e esses que restaram ácidos de acetil, de salicílico, e hemofílicos.
Guardo, resguardo, relembro, guardo de novo. Ninguém tira, ninguém rouba. Vento que toca o rosto fica preso na alma, meu bem!
Claudilene Neves

23.6.10

"(...)"

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”
Caio F.

de fato, você me afeta.

Eu deveria entregar? Jogar tudo fora porque o que conheço é o que quero desconhecer? Já não sei mais, prefiro me argüir em atitudes devassas. Sem pressentimentos, ressentimentos ou supostas frustrações futuras. Existe um problema: corto-lhe logo a cabeça. Pelos pés, pelo peito e no seio da sua face que marco, reencontro e só vejo onde estou e te tenho.
Retiro-me, não faço com que eu perca os pinos na atenção. Sigo, proponho confronto e desconforto, é áspero, eu sei, mas também sei do que suporto. Eu não te suporto, não suporto te suportar tanto. Prefiro tua presença forte, tua voz grave, teu toque doce. Na pele, epiderme, cheiro tua palavra.
Já estava saindo, e os músculos se negaram a contrair. Escorreguei. Falhei. Previ errado, e como nada combinado e demasiadamente, me entreguei. Até onde? Até quando? Eu prefiro nem pensar.

Claudilene Neves

27.5.10

somos o que somos, (...)

"(...) Não somos o que pensamos ser.
Somos o que somos.
Sem ser muito, sem ser demais.
Até porque... Uma hora a banda passa
Mas a música não é a mesma de ontem.
O inverno chega... e aí, o cheiro é parecido com o de (2006).
E aí você já olhou sua foto na moldura e sentiu saudades.
Saudades do que você já foi.
E se pergunta onde escondeu aquele sorriso da foto.
E se olha. Compara as pessoas do espelho e da fotografia.
E se questiona: - É a mesma pessoa?
Duvida... mas reage aliando-se as certezas de sempre
Basta a essência de nós.



Somos o que somos.
Mas, estamos sempre...
Não há tempo para ser.
E só agora somos...
Com as retiscências...
E sem complementações.


Débora Andrade

25.5.10

doi, doi sim

"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva".
Caio F.

partiu, partida.

Com uma mão sobre a outra, suspirou levemente e lembrou, do recado, resistindo não encontrar o retrato guardado dentro do bolso, amassado, rasgado do tempo que foi investido por olhos, anseios pesados e os dedos sobre ele.
Ergueu a cabeça, olhou pra trás, olhou porque gostaria de ter certeza, que sim, teria que partir, mas antes pra ter certeza que ninguém a impediria dessa atitude vil. Desnuda de sentimentos e profecias, tratou do fato com pudor, como ele mesmo trataria. Desgostou, suspirou profundamente, enchendo mais uma vez os pulmões de sufoco, e os olhos de coragem.
Abriu as portas, deu um passo à direita, desceu da calçada, e foi pra casa arrumar as malas e mudar de vida - pra sempre, ou só por um dia, neste momento, já era o bastante.
Claudilene Neves

24.5.10


"É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito, preparar uma massa, sentir seus cílios. Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje? Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar.
Não negue, apareça. Seja forte. Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto.
Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes.
Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados.
É preciso que você venha nesse exato momento. Abandone os antes. Chame do que quiser.
Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates.."
(sim, é pra você!)
Caio F.

18.5.10

Vinte e três poucos anos!

A página está em branco, os olhos arregalados. Com abalos sísmicos, de vinte e poucos anos, que embalam puramente um terno caos, adorável e adocicado de aspartame. Viscerais 13 horas que perduram o dia depois de amanhã.

A página ao pouco se esvaece, entre pops, rocks, chicos e clarices. Enfim, bossa, samba, sonho.
De cada pedaço, parte, arte, vento, invento, sofrimento - sonhando com pedaços partidos, de sonhos despedaçados, pelas batidas, pelos frangalhos, pelos cifrões, pelos arranhões.

Verso, peso, prosa, preso. Metades minúsculas, microscópicas, de um quase tudo, de um quase nada, de um quase momento.

O livro toma forma, páginas dançam de um lado pro outro, escolhem o que são, tocando na trilha, samba canção, coroando os dias sem fim, fundamentos felizes de momentos viscerais.

A prosa cálida. O verso manso. O silêncio grita. Amor? Espanta.
Vinte e poucos anos de pura prosa, verso, silêncio e ainda assim, amor.



Claudilene Neves

11.5.10

de fato, despedida

Despeço, dos meus enganos.
Não é fácil conter-me.
Fazer fato, fotos, cada pedaço

de presente e passado.

Vicio, retruco, inconformo.
Recomeço pelos meus enganos.
Não é fácil calar-me.

Conto prosa, passos, sonhos, futuro.
Sonho, enlouqueço, perduro.

Encontro meus enganos.
Despeço dos meus fatos.
Recomeço os meus sonhos.


Claudilene Neves

estreito do tanto de uma sílaba


Vou facilitar meus problemas. Encontrar os pontos pra cada final de sílaba. Porque sinto estreito, e sentimentos do tamanho de frases são de longa perturbação. O porquê é demais, o saber é de menos, conheço começos e recomeços, ignoro, reelaboro, interrogo, faço fato, arte durante o dia e a noite sonho tomando café.


Claudilene Neves

10.5.10

dor, calor, amor.

eu sinto dor. não é dor que doi, é dor que teima.
teima seguir, restringir, prosseguir.

eu sinto calor. não é calor que queima,
é calor que doi. doi de sentir, doi de levar, doi de ouvir.

eu sinto amor, e esse é amor que ama,
que doi, que teima, que queima.


Claudilene Neves

28.4.10

O desenho é meu, resisto.

Eu quero te escrever.
Descrever cada momento vil que decorei de ti.
Quero transpor e transportar, o pedaço do laço

que nada feito permanece aqui. É no mínimo coragem,
mas nem por isso me safo do ridículo, e isso é no mínimo.
Porque te sinto, e pressinto teus gastos,

nos meus próprios gestos, que teimo tanto em refazer:
a cada compasso de teus sons e sentimentos.
Sigo, insisto em esquecer.
Fico, e nos vagos espaços, lembro.
Rezo, e insisto a resistir.
Ainda encontro, ponta, pro ponto: único ou os três do final.

/
Claudilene Neves

"Renascer"

Fuga.
Um clamor insiste: - Posse.
Posse de alma que colore sombras.
Retrocesso.
Corredeiras que carregaram este corpo morto.
Nascer é sempre mais doloroso.
Renascer é doer duas vezes.
Passos.
Pequenos, porém, ligeiros.
Ofegante.
Pesada.
Muito fôlego.
Teimosia.
A falta de ar não vence.
Os pés, ainda escravos da alma...
Pisam chão que não mais são estrelas.
Pó, poeira, chão.
Seguem.
Procuram pelo caminho que ainda não sabe se virá.
Se cansa.
Continua.
Vive.
Morre.
Nasce: RENASCE


Débora Andrade

meias palavras

Me declaro. As palavras que saem de mim são sempre verdades.
Embora eu saiba dizer meias palavras.
Nestas metades, guardo a intensidade que você ainda não soube merecer.
Desvio os olhares sempre confessos. É bom que eu te olhe pouco
para que não saibas o quanto de ti há em mim.
É bom que não tenhamos tanto de nós um na mão do outro.
Minhas meias palavras... E me calo... Porque também sei ser silêncio.
Meu barulho faço para disfarçar minhas margens
que transbordam de gestos teus. Gravei teus movimentos.
Te sinto na sombra dos meus versos...
Do meu corpo soam tics e tacs que insistem em contar meu tempo.
Cedo ou tarde... Nossas esquinas se cruzam no futuro de hoje.
E não há sobras de caminhos não traçados. Somos inexatos...
Suspeitos por transformar a vida em doce.
Condenados a manter laços. Mesmo que musicais...

Débora Andrade