7.4.10

Fé, sem fé.

E como quem não quer nada, comecei a viver cada gesto e cada gasto, com muito gosto. E agora o que me segura é essa falta e esse tremor, numa mão cheia de esperanças, e na outra essa falta de fé. Me envergonho, é claro, mas é preciso peitar essa falta de coragem, recomeçar do tudo, fingindo que não é nada e confiando nessa mesma fé, nua, crua e gelada. Como se fosse suficiente em versos absurdos de desespero me calo, nesse sentido de falar pro mundo o que sinto quando olho pela janela do ônibus, prédios imensos, comparados a essa pequenês que não enxerga nada, diante de tudo que vejo por cima do muro. Não é fácil ter de lapidar os olhos, não é fácil ter de matar a criança, não é difícil sentir isso. E como quem não quer nada já começo pelo meio me despedindo do final. É fato que preciso de silêncio pra escrever e pra sonhar, não nego que preciso de barulho pra viver e pra fazer. É um desgasto, eu componho e confesso. Das mãos sob o teclado, de mãos atadas sob as pernas, carrego os sonhos no meu colo.
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Claudilene Neves

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